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Opinião: Vini Jr. preterido no Bola de Ouro expõe tentativa de ‘mata-leão’ da UEFA à luta antirracista do brasileiro

  • Foto do escritor: digalafutebol
    digalafutebol
  • 29 de out. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 6 de fev.

Escolha escandalosa do prêmio escancara o racismo institucional no futebol ao ignorar o melhor jogador do mundo em 23/24. Europeus não suportam uma figura insubmissa como Vini Jr., que teve apoio integral do Real Madrid em boicote histórico.



Texto: Geyza Melo

Edição: Artur Alvarez


Foto dividida em dois. À esquerda, Vini Jr beijando o escudo. à direita, Rodri dando um joinha para a câmera segurando a bola de ouro
Vinicius Jr. (à esquerda), do Real Madrid, e Rodri, do Manchester City, disputaram a Bola de Ouro 2024. Crédito: Reprodução/redes sociais


Era para ser um dia histórico, o melhor dia do futebol brasileiro em 17 anos. Depois de muitos anos longe do topo, Vinicius Jr. iria nos colocar de volta lá, após provar ser merecedor reiteradas vezes.


Mas a euforia total e a certeza que desta vez o mundo do futebol se curvaria perante sua grandeza logo se tornou agonia e revolta quando chegou a notícia: eles conseguiram tirar o prêmio do Vini Jr. Achávamos que isso não seria possível, mas eles deram um jeito.


Em uma premiação indefensável e escandalosa, Rodri, do Manchester City, assumiu o papel de bode expiatório da europeia UEFA para não deixar a luta antirracista subir de patamar no futebol mundial.


Uma escolha punitiva, dirigida contra aquele que ousou expor os abusos sofridos em gramados europeus, que fez barulho e não abaixou a cabeça. Escolha de uma cerimônia representativa de um sistema que não se importa com a dignidade do jogador preto.


Quando foi avisado que o Vini não venceria a Bola de Ouro, o Real Madrid entendeu na hora o que estava acontecendo e boicotou completamente a cerimônia. O maior clube do mundo decidiu não compactuar com tamanho desrespeito.


"Se os critérios do prêmio não elegem Vinícius como vencedor, esses mesmos critérios deveriam eleger Carvajal. Como isso não aconteceu, fica claro que a Bola de Ouro-UEFA não respeita o Real Madrid. E o Real Madrid não está aonde não é respeitado", declarou o clube ao Diga Lá.


Tudo parecia orquestrado de forma sádica, sem esconder intenções. Caso a informação não tivesse vazado poucas horas antes do Real embarcar para Paris em voo fretado para 50 pessoas, Vini Jr. estaria lá para ser o protagonista num espetáculo de humilhação, uma tentativa de “mata-leão” da France Football e da UEFA à sua luta.


Alguém duvida que o rosto de Vini seria o primeiro frame visado após o anúncio do vencedor? Não foi apenas uma questão de não premiar quem mais merecia, foi uma tentativa premeditada de constranger.


Mas não desta vez, UEFA. O último “mata-leão” que Vini sofrerá é o do episódio inesquecível de Valência, quando um jogador do time andaluz o imobilizava enquanto um estádio inteiro o chamava de "macaco".


O boicote do Real foi emblemático, histórico, sem precedentes. E se mostrou totalmente fechado com Vini. Que outro jogador na história do futebol conseguiu isso? A ausência do clube no prêmio foi ensurdecedora, não pôde ser ignorada e incomodou, principalmente quando venceram os prêmios de melhor time masculino, melhor técnico e troféu Gerd Muller de artilheiro.


Vini Jr de uniforme do Real Madrid com a bola na mão estendendo o braço para cima com o pulso fechado.
Vini Jr. fez histórico gesto antirracista em direção à torcida do Valência após marcar gol na temporada passada, no primeiro jogo de volta ao estádio em que sofreu racismo. Créditos: Reprodução/redes sociais

Falando em sadismo, o que normalmente é velado se escancarou nos detalhes:


“O futebol ganhou”, Rodri? Dado o contexto, sua fala não poderia ser mais abominável. Isso se não tiver sido combinada com a UEFA –hipótese tão verossímil quanto a fala foi absurda. Para esses caras, era sobre futebol. Para Vini, é sobre muito mais que isso: sua luta é a racial, de pertencimento, que transcende o esporte. E isso incomoda demais.


Se a Bola de Ouro de Rodri é “uma vitória e uma recompensa para o futebol espanhol”, então é uma Bola de Ouro do futebol que é palco de racismos frequentes, por parte de torcedores, jogadores, jornalistas e até dirigentes. O próprio Rodri foi investigado por participar de cânticos racistas após a conquista da Eurocopa, em julho deste ano.


E, claro, a cereja no topo do bolo do escárnio: colocaram um homem preto, George Weah, o único africano a conquistar a Bola de Ouro, para entregar o prêmio e ser o rosto desse cenário desprezível.



Quando “responder no campo” não é o bastante - porque sempre tem racista para invalidar

A perversidade do racismo transforma em alvo aqueles que "ousam" reagir aos ataques que sofrem. Você já deve ter ouvido que “a resposta deve ser dada em campo”. Protagonista do Real e campeão da Champions League, da LaLiga e da Supercopa da Europa, Vini Jr. provou que suas ações falam por si e apenas isso não é suficiente para ganhar a Bola de Ouro.


Na Champions, Vini carregou jogos, marcou seis gols e deu quatro assistências, destacando-se mais uma vez em uma final ao balançar as redes. Ele se mostrou o jogador mais decisivo do mundo no melhor time de 23/24.


E o Rodri? É inegável que é um grande jogador e a temporada que fez em 2022/23 poderia tê-lo consagrado melhor do mundo. No entanto, em 23/24 ele não foi o melhor do Manchester City, nem da Premier League, nem da seleção espanhola, muito menos do mundo.


Ao considerarmos os requisitos da Bola de Ouro – atuações individuais, caráter decisivo, rendimento da equipe e conquistas, além de classe e jogo limpo – ninguém foi melhor que ele. Qual foi o problema então?


Além do racismo, o problema é o forte eurocentrismo presente no futebol, representado nos 100 jornalistas avaliadores, de países com melhor posição no ranking da Fifa. Tal cosmovisão também foi vista na cobertura da Bola de Ouro pela imprensa internacional.


Enquanto o jornal francês L’Équipe debochou da ausência de Vini com imagens e montagens, o catalão Sport disse que ele precisaria “se comportar melhor e respeitar os rivais em campo” –retórica desgastada que expõe o racismo institucional do futebol, já que Rodri não é um anjo, mas não é julgado da mesma forma.


foto dividida em duas, ambas com fotos da transmissão do LEquipe na Bola de Ouro. Na da esquerda, TV mostra foto de Vini Jr deformada, e na da direita está uma montagem de Lamine Yamal segurando Vini Jr no colo.
Jornal francês L'Équipe, um dos maiores da França e parceiro da Bola de Ouro, exibiu fotos distorcidas e montagens de Vini Jr na transmissão do prêmio. Crédito: Reprodução/redes sociais

“Seus protestos, provocações contínuas e atos reprováveis em campo certamente lhe tiraram votos”, afirmou o Sport. Engraçado que quando estava recebendo o troféu de melhor goleiro, Emiliano Martinez foi perguntado pelos apresentadores se seu estilo provocador poderia ser considerado um diferencial para ele ter vencido o prêmio. Asqueroso.


Seja pelo fator esportivo ou pelos critérios da Bola de Ouro, os argumentos se invalidam. É verdade, Vini, eles não estão preparados.





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